Ambição de se destacar no ambiente de trabalho pode ultrapassar limites éticos
Estudo realizado pelo The Pew Research Center, grupo norte-americano de pesquisa independente sobre opinião pública, traçou um breve diagnóstico da nova geração de profissionais: eles pensam em ganhar muito dinheiro, sonham com uma carreira estável e não medem esforços para atingir o intento. O estudo é novo, mas a constatação remete à antiga questão da competitividade no ambiente corporativo. Vale tudo para conquistar esses objetivos? “Não. Deve-se sempre combinar os princípios éticos com o desejo de crescer”, explica Plínio Leite, da CL Executive Search & Interim Management. É fato. Se não for bem dosado, o espírito de competição pode devastar uma carreira promissora. Todo o cuidado é pouco.
De acordo com a Teoria das Necessidades Adquiridas, do psicólogo norte-americano David McClelland, o ser humano é guiado por três bases motivacionais: a realização, a afiliação e o poder. No caso dos extremamente competitivos, o poder seria a motivação principal para agir no escritório, estimulando a vontade de vencer e de estar no controle das situações. Pessoas guiadas pela base do poder seriam “aqueles que fazem qualquer coisa e influenciam os outros a respeito de tudo para atingir seus próprios planos pessoais”, esclarece a consultora Sueli Ruiz, que trabalha com orientação de carreira.
Para Leite, a competição contribui para superação e é o motor que estimula para se alcançar metas. No entanto, se exagerada, pode afundar uma carreira potencialmente brilhante. O que deve limitar o executivo para que ele não ultrapasse a concorrência saudável são os princípios éticos combinados com a normatização legal, missão e visão da empresa.
Mas é preciso estabelecer o conceito de emulação no mundo corporativo. De acordo com Cecília Pinaffi, da Mussi Consultores, competir, por definição, significa querer a mesma coisa que outra pessoa, o que não pressupõe, necessariamente, que tenha um ranço negativo. “Se enxergarmos essa definição pelo lado positivo, não há mal algum em imaginar que uma equipe é competitiva quando todos os seus membros estiverem motivados para alcançar uma meta comum”, diz. Assim, só haveria prejuízos quando as relações ultrapassam a ética e o bom senso. “Quando se é maldoso em relação a fatos, dados e ações contra um companheiro, a competição pode ser prejudicial para o funcionário e para a empresa”, explica Sueli.
Ética x Concorrência
A melhor forma de gerenciar a concorrência excessiva é trabalhando a imposição de limites, objetivos e metas de cada colaborador. É preciso fortalecer a idéia de trabalho em equipe e cooperação, além de ter planos para a mediação nos casos de conflito. É nesse momento que um bom líder ajuda, e muito, na resolução de situações delicadas. A liderança precisa “acompanhar a evolução dos trabalhos, corrigindo os rumos sempre que as variáveis fiquem claras e quantificáveis”, diz Leite, o que evita que as equipes levem a competição tão a sério que a empresa entre em um processo de autofagia.
Para Sueli, quando a concorrência ultrapassa as barreiras éticas, o líder também tem o papel de verificar a atuação de cada um dos seus subordinados. “Os colegas sabem se alguém passou do limite, então os ouça”, aconselha. Outra forma de perceber o excesso de competição é examinar se as pessoas estão trabalhando de maneira muito individualista e sem comunicação.
Apesar de o arrojo e a agressividade estarem entre umas das características mais procuradas pelo mercado, nem sempre vale tudo na busca por esse reconhecimento. A ética deve estar acima de qualquer premissa, pois uma atitude pouco transparente não se sustenta em um ambiente de negócios. “Estimular a competição pode até ser uma boa estratégia, desde que sejam claros os limites e conseqüências dessa prática”, defende Cecília.
Uma caminhada nada solitária
Trilhar uma trajetória de sucesso não tem nada a ver com ignorar os feitos de colegas, enclausurar-se e caminhar sozinho, mas ter motivação suficiente para sair na frente e buscar a ajuda de outras pessoas. Sendo assim, é importante estar sempre em contato com os subordinados, superiores e pares. Por outro lado, a companhia deve observar questões como a boa política de remuneração e benefícios, reforço de atitudes positivas e premiação pelas iniciativas bem sucedidas e idéias criativas de seus funcionários, como forma de arar um terreno fértil de fomentação à competição saudável.
Se bem administrada, a concorrência interna ultrapassa as paredes do escritório e se transforma num componente que possibilita vantagem competitiva para a organização e influencia diretamente os resultados. Dessa forma, é recomendável e absolutamente viável estimular a competição sem ultrapassar os limites éticos com o mercado e com seus funcionários. Se os integrantes de uma equipe entendem que o sucesso individual contribui para o sucesso de todos, diz Cecília, as chances de se verificar uma concorrência produtiva crescem substancialmente.
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