domingo, 20 de maio de 2007

Virgilio: Sem precisar de nostalgia...

Um menino. É isso que vejo ao entrar na cabine do velho vagão de trem. Ao olhar para mim, percebo que tenta esboçar um pequeno sorriso. Enfim, já não sou mais a criança que costumeiramente perambulava pelas ruas à procura de um alvo para traquinar. É engraçado como o tempo passa rápido. Até pouco tempo atrás, não era perigoso jogar uma simples pelada na rua, também podíamos brincar de polícia-e-ladrão sem a probabilidade de sermos censurados. E o que dizer então, de quando íamos às costumeiras quermesses e voltávamos somente ao nascer do sol. Bons tempos...
Nesta nostalgia em meio a antigas memórias, percebo que o garoto à minha frente dormiu. Para o tempo passar mais rápido, começo a observar a paisagem por detrás da pequena janela suja do trem, que igualmente como os bons costumes, também envelheceu. Não preciso concentrar-me muito para perceber o quanto tudo mudou. Onde uma vez havia plantações de laranja, hoje avisto prédios, olhando mais abaixo tento avistar a rocha onde costumava sentar junto de minha primeira amada, mas para minha desolação, apenas vejo concreto.
O trem pára. É o suficiente para me dispersar da paisagem. Ao elevar o olhar para o garoto em minha frente, percebo que me fixa os olhinhos com admiração. Não consigo imaginar quanto tempo ele estava a me mirar assim. Ao perceber meu espanto, logo me oferece um doce e sai. Creio eu, para o encontro de seus pais.
Ao deixar o vagão, deparo-me com um abundante número de pessoas, cada uma trilhando sua vida, num rumo indeterminado, com um objetivo qualquer. Porém, desses olhares eu posso me recordar. São iguais aos que avistei através dos olhos de um menino. São os mesmos olhares que via em minha juventude. Um olhar simples, decidido, porém aguerrido. Procedente de pessoas que acima de qualquer coisa, de qualquer obstáculo, ainda estendem os braços para ajudar, trabalhar.
É estranho, mas depois de notar a doçura daquele menino e os olhares de todas essas pessoas ao meu redor, aquele sentimento de frustração relacionado à extinta simplicidade do interior, já não me assola mais. Não é raro ver em meio a toda essa urbanização, pessoas que se amam, ajudam-se, lutando juntas por seus ideais. Percebo que era realmente disso que mais sentia falta.
Conforta-me saber que todos esses sentimentos, independente do futuro, irão continuar se manifestando eternamente no coração dos cidadãos interioranos. A paisagem pode mudar, porém o povo eternamente se conservará simples e batalhador.

17 comentários:

HUMBERTO CAMARGO - discutindo feiras disse...

Virgilio, o que sinto ao ler seu texto é que estou diante de um romancista.
Se vc investir nesta área poderá se tornar um bom escritor, nota-se também que é um sentimentalista.
O tema em questão jamais será abordado por um romancista/sentimentalista do ponto de vista macro econômico, qie é o que afeta a vida diária das pessoas.
Texto bom, mas não se fixou no tema, mesmo sendo um texto romanceado concentrou-se no passado e presente,esqueceu do futuro.

Anônimo disse...

Me lisonjeia ler este comentário. Porém, em nenhum momento ficou claro a visão macro como requisito no texto.

Requisito
-Escrever um texto sobre o futuro da nossa região. (Tema demasiado aberto, tanto que abordei o lado sentimental como bem disse).

Seguindo,
- Respeito ao prazo
- Uso da gramática
- Comentários postados pelos leitores.

Entendo a sua visão, pois é nela em que o senhor vive. Mas creio não ter divergido dos quesitos citados.

Obrigado,
Virgílio Gabriel.

Anônimo disse...

Como eu disse, gostei mesmo do texto, parabéns, vejo em vc um promissor escritor. Releia o seu texto e verá que vc esqueceu de retratar o futuro. Eu gostaria de ver sua visão romancista do futuro de nossa região.

Anônimo disse...

Tentei relatar o ponto imutável das pessoas. Pra isso, mostrei que do passado ao presente muito se mudou(técnologia), mesmo assim o caráter do povo ainda é o mesmo. Então não há porque se preocupar com o futuro.

Creio que o senhor queria algo já relatando o futuro. Bom, o tema ficou um pouco subjetivo pra mim. Espero compreensão.

Abraço,
Virgílio Gabriel

Anônimo disse...

Sem problemas Virgílio, entendi perfeitamente sua visão.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Carlos Giannoni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Giannoni disse...

Cara, você não aceita nenhuma crítica, sempre rebate tudo e tenta mostrar que é o dono da razão, fica um tom de arrogância e superioridade, não que você seja assim.
Humildade parceiro, aceite críticas e tire delas algo que possa te ajudar ao invés de ficar rebatendo e questionando.
Parabéns pelo seu texto e boa sorte na próxima etapa.

Carlos Giannoni

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Giannoni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Carlos Giannoni

Obrigado pela crítica,
Desculpe-me por passar uma impressão má com relação ao meu caráter. Tentarei expressar melhor a humildade daqui pra frente.

Abraço,
e obrigado pela força!
t+