terça-feira, 10 de abril de 2007

Eles atrasam a formatura com uma esperança: a de que seus estágios levem ao tão sonhado emprego

Surgiu nas universidades brasileiras um tipo novo de estudante: ele faz de tudo para adiar a data da formatura e chega a levar o dobro do tempo para concluir o curso. A motivação desses jovens é uma só. Ansiosos, de olho no primeiro emprego, eles se mantêm mais tempo como universitários porque, desse modo, conseguem ao menos permanecer na condição de estagiários. Sem dissolverem os laços com as empresas que os recrutaram, esses estudantes têm mais chances de, um dia, finalmente ser efetivados. Foi o caso de 64% dos jovens brasileiros que passaram por estágios no ano passado, segundo o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). São as histórias de sucesso que alimentam a esperança de estudantes como a paulista Marina Schmalb Guizelini, 22 anos, aluna de administração de empresas na PUC de São Paulo. Há oito meses como estagiária no Banco Santander, Marina já foi avisada pelo chefe de que não será contratada até o fim do ano, quando se formaria. Angustiada com a idéia de deixar a universidade sem perspectiva profissional, ela tomou a difícil decisão de atrasar em meio ano a conclusão do curso. Assim, terá completado dois anos de estágio antes de entrar na disputa por uma vaga. Do ponto de vista financeiro, fez um péssimo negócio. Marina ganha 1.400 reais no estágio e gasta para estudar 1 500 reais, pagos com a ajuda dos pais. Está segura, no entanto, de que vale o investimento: “Sei que emprego bom é coisa rara, por isso estou fazendo tudo o que posso para não deixar essa vaga escapar”.

A jovem paulista é uma “estudante profissional”, como passaram a ser rotulados os universitários que, como ela, permanecem em sala de aula até o dia em que vêem seu estágio se tornar emprego. Enquanto isso, acumulam experiência prática, que contará a seu favor na hora da competição por uma vaga. Foi a forma que eles encontraram de sobreviver a uma conjuntura que lhes é bastante desfavorável: o desemprego entre os jovens universitários supera as (já altas) taxas brasileiras. Estudo conduzido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, apesar das inúmeras tentativas de estrear no mercado de trabalho, 18% desses jovens ainda não arranjaram emprego ? para efeito de comparação, o desemprego no país é de 9,3%. A atual leva de universitários está, também, em desvantagem em relação à geração de seus pais. Há duas décadas, 200.000 brasileiros concluíam por ano o curso superior. Ostentar um diploma no currículo praticamente garantia a conquista de uma boa vaga no mercado de trabalho. Na era dos estudantes profissionais, os recém-formados compõem um batalhão anual quatro vezes maior: na casa de 800.000 jovens. O diploma, portanto, deixou de impressionar. Além de enfrentarem uma competição mais dura, os jovens deparam ainda com outro fato que chama atenção na pesquisa da FGV: os salários nessa faixa etária vêm caindo na última década. Um brasileiro que acabou de sair da universidade deve esperar receber, em média, 465 reais ? 10% menos do que há uma década.

Nenhum comentário: